terça-feira, 9 de junho de 2009

Revivendo o passado... À Mulher...

Nota: São dois textos com dois pontos de vista, o post acabou por ficar grande! Eu hoje, particularmente, acho que são duas opiniões radicais...

“Carta da Amélia

O despertador canta de galo e eu não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede. Estou tão acabada, não queria ter que trabalhar hoje. Quero ficar em casa, cozinhando, ouvindo música, cantarolando, até! Se tivesse filhos, gastaria a manhã brincando com eles. Se tivesse cachorro, passeava pelas redondezas. Aquário? Olhando os peixinhos nadarem. Espaço? Fazendo alongamento. Leite condensado? Brigadeiro. Tudo menos sair da cama, engatar uma primeira e colocar o cérebro prafuncionar.
Gostaria de saber quem foi a mentecapta, a matriz das feministas que teve a infeliz idéia de reivindicar direitos a mulher e por que ela fez isso conosco, que nascemos depois dela. Estava tudo tão bom no tempo das nossas avós, elas passavam o dia a bordar a trocar receitas com as amigas, ensinando-se mutuamente segredos de molhos e temperos, de remédios caseiros, lendo bons livros das bibliotecasdos maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando flores, colhendo legumes das hortas, educando crianças, freqüentando saraus, a vida era um grande curso de artesanato, medicina alternativa e culinária...
Aí vem uma fulaninha qualquer que não gostava de sutiã, tampouco de espartilho, e contamina várias outras rebeldes inconseqüentes com ideias mirabolantes sobre "vamos conquistar o nosso espaço". QUE ESPAÇO, MINHA FILHA!!?? Você já tinha a casa inteira, o bairro todo, o mundo aos seus pés.Detinha o domínio completo sobre os homens, eles dependiam de você para comer, vestir, e se exibir para os amigos, que raio de direitos requerer?
Agora eles estão aí todos confusos, não sabem mais que papéis desempenhar na sociedade, fugindo de nós como o diabo da cruz! Essa brincadeira de vocês acabou é nos enchendo de deveres, isso sim! E, PIOR, nos largando no calabouço da solteirice aguda. Antigamente, os casamentos duravam para sempre. Por que, me digam por que, um sexo que tinha tudo do bom e do melhor, que só precisava ser frágil, foi se meter a competir com o macharedo? Olha o tamanho do bíceps deles, e olha o tamanho do nosso... Tava na cara que isso não ia dar certo.
Não agüento mais ser obrigada ao ritual diário de fazer escova, maquiar, passar hidratantes, escolher que roupa vestir, que sapatos, acessórios, que perfume combina com meu humor, nem de ter quesair correndo, ficar engarrafada, correr risco de ser assaltada, de morrer atropelada, passar o dia ereta na frente do computador, com o telefone no ouvido, resolvendo problemas. Somos fiscalizadas e cobradas por nós mesmas a estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, cheirosas, unhas feitas, sem falar no currículo impecável, recheado de mestrados, doutorados, e especialidades. Viramos "super-mulheres", mas continuamos a ganhar menos do que eles... Não era muito melhor ter ficado fazendo tricô na cadeira de balanço?
CHEGA!!!
Eu quero alguém que abra a porta para eu passar, puxe a cadeira para eu sentar, me mande flores com cartões cheios de poesia, faça serenatas na minha janela... Ai, meu Deus, são 7h30, tenho que levantar!E tem mais... Que chegue do trabalho, sente no sofá, coloque os pés pra cima e diga "meu bem, me traz uma dose de whisky, por favor?", pois eu descobri que é muito melhor servir. Ou pensam que eu tô ironizando? Tô falando sério! Estou abdicando do meu posto de mulher moderna... Troco pelo de Amélia. Alguém mais se habilita? Antes eu sonhava, agora nem durmo mais.”

“Resposta a Amélia Enlouquecida...

O despertador canta antes do galo e olho para o lado e vejo aquele homem dormindo pesadamente, roncando ao meu lado e só consigo pensar se o que vou preparar para o café da manhã vai fazê-lo feliz e estará pronto antes dele acordar. Estou também exausta após ter lavado toda a louça de um jantar para os amigos do trabalho dele, que passei a tarde de ontem inteira preparando.
Hoje, eu realmente não quero ficar em casa! Adoraria poder sair, conversar com as pessoas, saber o que está acontecendo no mundo, no país, na cidade, no bairro ou apenas na minha rua e não só as coisas que se passam na cozinha, no quarto das crianças ou no banheiro de visitas. Mas... Tenho que arrumar as crianças para o colégio (esse ano, pelo menos, estudam no mesmo turno), passar aspirador de pó naquelas salas enormes, levar os cachorros para passear, esfregar aquele aquário e preparar um delicioso pudim de leite, no ponto, porque a mãe dele vem fazer uma visitinha no final do dia... Aposto que ele não estará e que terei que fazer sala até a hora de buscar minha filha no balé e levar o meu filho para escolinha de futebol.
Tudo que eu mais queria hoje era poder levantar um pouco mais tarde, tomar meu café da manhã, o que não precisa ser grande coisa afinal de contas me preocupo com a minha saúde e gosto de ver o meu corpo bem cuidado, pegar o Meu carro, dirigir até o Meu trabalho, voltar e buscar as crianças nas atividades extra curriculares, chegar em casa, tomar aquele banho relaxante, jantar e descansar no meu quarto ao lado de um homem de quem me orgulho e que se orgulha da sua esposa.
Seria realmente interessante saber quem é essa autora desconhecida que teve a infeliz idéia de dar um, ou melhor, muitos passos atrás e evocar as lembranças de uma época em que a mulher era apenas mais um utensílio utilizado pelos homens como empregada doméstica, babá, bibelô e parceira sexual. Ainda bem, existem mulheres um pouco mais “rebeldes” que lêem um texto como esse e sentem a mesma revolta que eu senti.
É fácil se contentar com passar os dias bordando, trocando receitas, lendo bons livros, decorando a casa e praticando jardinagem, mas será que é fácil passar semanas cozinhando cafés da manhã, almoços e jantares, lavando toda a louça, lendo sobre novas comidas, fazendo faxinas e ariando panelas? Realmente a vida deveria ser muito agradável para as Amélias que possuíam damas de Campânia que faziam todo o trabalho pesado.
Atualmente a mulher tem que ser mil para sobreviver, ter sua profissão e conseguir manter a saúde de sua família, Mas ela conseguiu “conquistar o nosso espaço”, espaço este que a cada ano que passa vem crescendo, as mulheres estão conquistando postos de trabalhos melhores e muitas vezes ganhando até mais do que homens. Pensamento pequeno dizer que a mulher tinha o mundo aos pés dela... Ela estava nos pés do mundo! O principal espaço que a mulher conquistou foi o mundo, foi a possibilidade de conversar sobre política, economia... E ainda falar sobre moda, culinária e livros.
Em um ponto concordo com nossa Amélia, os homens estão um pouco confusos, mas dizer que estão fugindo como o diabo da cruz... Isso parece mais dor de cotovelo, além de exibir um medo profundo da possibilidade de ficar para Titia... Realmente, acho que a autora nasceu algumas décadas atrasadas.
Antigamente os casamentos duravam para sempre e muitas vezes “nós, Amélias,” nos submetíamos a pouca conversa, ao descaso e a traições contínuas. Será que os casamentos duravam para sempre???
Hoje em dia temos o livre arbítrio para decidir se queremos um casamento assim ou não. Conquistamos o direito de conversar sobre assuntos mais interessantes do que o novo conjunto de panelas que a loja de departamento próxima a sua casa está vendendo, conquistamos o direito de sair com nossas amigas para jantar fora, para assistir a um teatro e até fazer uma viagem sozinha, isso tudo, sem medo, sem dependência. Temos liberdade para decidir, somos capazes de sair de uma relação em que não somos respeitadas e temos certa independência financeira.
Prefiro muito, trabalhar, ganhar meu dinheiro, ter que me arrumar e ainda ter pique para cuidar da casa do que ficar confinada entre quatro paredes e apenas servir.
Servir é bom Também, servir um uísque, um jantar a luz de velas numa ocasião especial, mas sem a obrigação, apenas por puro prazer. Ainda sobre querer alguém que abra a porta para eu passar, puxe a cadeira para eu sentar, me mande flores com cartões cheios de poesias, faça serenatas na minha janela... É óbvio que toda mulher quer, mas mimos, tanto deles como nossos, são necessários e muito saudáveis.
Não somos super-mulheres, somos mulheres que têm a chance conduzir a vida da forma que acha mais saudável, livre de costumes arraigados no passado.
Minha querida, se você quiser ser Amélia, boa sorte! Eu não abdico do meu posto de mulher moderna...”

Ai que saudades da Amélia – trecho da música

“Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: Meu filho, que se há de fazer

Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade”

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