sexta-feira, 26 de junho de 2009

Menino na rua...

Nota: Quase 15 dias depois do último post, depois de muitas mudanças, e pouca vontade, um novo texto. Sou apaixonada pelo olhar expressivo de uma criança e esse texto surgiu de um que vi por aqui... Confesso estar sem muita vontade de passar por aqui, mas ficam fotos também para ilustrar este texto. Até!


E lá estava aquele menino, olhando para o monte de papelão, perdido em pensamentos e absorto pela realidade... Tentando descobrir o porquê daquele outro, que passou por ali meio sem rumo, ter rasgado aquela caixa que para ele era um navio que viajava tranquilamente por águas calmas, num movimento continuo de ir e vir. Não conseguia entender a razão do outro em rasgar o seu brinquedo se não estava fazendo nada demais além de balançar para frente e para trás num pedaço de lixo e deixando que a imaginação o levasse para lugares tão distantes daquela realidade quanto possível. A inocência da idade não permitia perceber a amargura e provável inveja que o outro sentiu por querer ser ele a poder navegar para longe daquele mundo.

Tempos atrás a realidade dele era bem diferente, mesmo com a pouca idade, já possui duas histórias de vida. Naqueles dias, costumava ser acordado de manhã pelo irmão, vestia seu uniforme e iam os dois caminhando para escola junto à irmã mais velha. A mais nova ia com a mãe, amarrada as suas costas, passar o dia vendendo pães pelas ruas da cidade. Seu pai, seu pai era candongueiro e saia cedinho para garantir a hora de pico no trabalho.

Essa época passou. O pai se envolveu com quem não devia, fez o que não devia, pegou o que não devia e não voltou mais para casa. A mãe não contou para os mais novos, mas eles sentiram que tudo tinha mudado. Acabaram as aulas, acabaram as festas e almoços, acabaram as danças em família, aumentaram as peregrinações, aumentaram as reclamações, aumentaram os choros e a rotina era outra.

A mãe, muito religiosa, pensou em desistir. Rezou por força, rezou por sorte, rezou por graça e pediu que levassem seus bebês para uma realidade melhor, para uma vida melhor, para um futuro melhor. Mas quando tentou, não teve sucesso. Talvez o melhor mesmo fosse tê-los sempre com ela, fosse poder vê-los crescer num mundo tão castigado e mesmo assim mantendo a dignidade e força para lutar.

Essa mãe zungueira, continua vendendo pão, mas agora, também lava roupa ajudada pela filha mais velha. Essa, sem idade, é quem diariamente faz aquilo que era rotina da mãe, ela quem cuida da irmã novinha, ela quem serve o café e ela quem arruma a casa. O irmão, também abandonou o curso. É necessário ganhar dinheiro, trabalha como cobrador do táxi, ajuda muito nas despesas da casa, mas não deveria, não é responsabilidade dele, não podia ser. E o menino? Ah o menino, ainda vê as coisas com os olhos infantis e ingênuos que a realidade ainda não corrompeu, por enquanto, ajuda a irmã a cuidar da mais nova. Ficam os dois quase sempre na rua, ali brincando em meio ao lixo, que para eles, naquelas mentes criativas conseguem transformar no maior e mais divertido parque de diversões.

Naquela manhã, lá estava aquele menino, na rua, olhando para o monte de papelão, perdido em pensamentos e absorto pela realidade que agora viu... Descobrindo o porquê daquele outro, que podia ser o seu irmão, passou por ali meio sem rumo e rasgou aquela caixa que para ele inocentemente era um navio que o levava para longe dali por águas calmas, num movimento continuo de ir e vir...



3 comentários:

Nuna Machado disse...

Minha querida! Que engeheira/escritora linda você está me saindo! A cada dia que escreve você me dá um presente. Ainda não sei qual dos posts gosto mais. Era isto que você queria mostrar hoje cedo. Adorei este também.
Beijos cheios de saudades.

bernardo disse...

uma história africana bem brasileira!

bernardo disse...

cadê as atualizações disso aqui???